Segue abaixo texto na íntegra de reflexão escrito por Rafael Meireles membro do Grupo Eco:
Onde Fazer?
Atualmente, em meio ao sobe
e desce no interior da favela durante os finais de semana, podemos assistir a
um verdadeiro desfile de modas, loiros, loiras, maioria esmagadora de brancos e
porque não dizer 99,99%, ou seja, classe média. Não a nova classificada pelo
governo com renda aproximada de mil reais, mas aquela velha e elitista classe
média brasileira.
Durante o dia (manhã) alguns
falam idiomas outros que não o português e portam máquinas fotográficas com
lentes cada vez maiores. Turistas, sobre estes falamos em outra oportunidade.
No final da tarde ou noite
mudam as caras, os trajes, mas as cores continuam as mesmas, esses, vem buscar
o que conhecemos aqui na cidade do Rio de Janeiro como "A BOA", uma
forma do carioca de maneira popular identificar a melhor opção para o seu
divertimento conhecido por alguns como night, balada ou até noitada. Como
quiserem.
Divertimento?
Exatamente, divertimento!
Loiros, loiras, maioria
esmagadora de brancos, classe média dentro das favelas em busca de boas?
(Claro que existem brancos e
loiros dentro das favelas, mas é fácil identificar quando a pessoa não é do
local.)
Não parece nada racional ou
lógico o trecho à cima citado.
Seria o fosse, se escrito há
pouquíssimos três anos anteriores a este. Quando a favela era considerada
impenetrável por qualquer segmento da sociedade que não os próprios moradores.
Embora pareça “viajação”
para os mais desavisados, o enredo supra narrado já foi até capa do jornal o
globo, trazendo uma foto de uma laje da Favela Santa Marta, mundialmente
conhecida como laje do Michel Jackson e destarte no texto o novo “point” da
cidade.
Assim como o Santa Marta que
está com a agenda da quadra da escola de samba lotada para eventos, outras
comunidades também pacificadas já começam a ocupar grande parte da programação
com festas daquelas cuja entrada varia entre 50 e 120 reais, podendo os mais
organizados comprarem por 30 ou 40 reais dois meses antes do evento.
Alguns empresários exploradores
deste mercado, satisfeitos que estão com o novo sucesso, indagados sobre tais
iniciativas, incluem em seu discurso o grande “Q” da questão, pelo menos para
esse humilde cidadão que vos escreve. Pois bem, o Q da questão é o discurso de
que esses eventos nas comunidades pacificadas estariam trazendo integração
social entre o morro e o “asfalto” ou pelo menos diminuindo a exclusão evidente
entre as duas localidades.
Outros empresários não muito
preocupados com o social apenas realizam o evento e vão embora levando suas
fortunas. Certos de que não estão fazendo nada de errado.
De fato não estão. Ao menos
legalmente falando.
Embora nada seja ilícito, e
aí não nos cabe entrar no mérito da preparação, realização e pós-realização,
essa parte deixo para as autoridades competentes, entendo que essas festas
mereçam no mínimo uma análise MORAL.
Por quê?
Voltando a movimentação pela
favela nos fins de semana. Além de roupas, bolsas, sapatos, bebidas e carros
caríssimos, estes subindo.
Percebo que os jovens moradores
da favela estão descendo e buscando alternativas para suas “BOAS” já que os
espaços da comunidade estão sendo ocupados por eventos e pessoas de fora do
morro. Alternativas estas: Clubes próximos que promovam bailes, pagodes ou
shows com preços ainda acessíveis, além de outras favelas que ainda não tenham
se tornado “point” da classe média.
O que “eles” consideram
integração alguns vem considerando exclusão, visto que os jovens moradores da
favela, na sua maioria esmagadora porque não dizer 99,99% não participam desses
eventos. E não participam por vários motivos, ou seja, não curtem a mesma
atração que os “playboys”, não se sentem bem, não ficam à vontade diante do
choque cultural, não tem dinheiro para pagar entrada ou as bebidas que são
caríssimas, não sabem do acontecimento ou quando sabem não tem informações de
onde adquirir o ingresso. Infelizmente isso ocorre na maioria dessas festas,
além de nenhuma divulgação interna, se quer vendem ingressos dentro da
comunidade.
O modelo adotado, na minha opinião
é notadamente discriminador e excludente, acuando cada vez mais o jovem
favelado e dominando um território que historicamente foi da juventude da
favela, infelizmente, esse é um seguimento que muito vem sofrendo com diversas
abordagens adotadas como regra para nossa sociedade.
Com tudo, como se não
bastasse perder espaço para pessoas que ali nunca estiveram esse padrão de
evento vem dificultando o convívio e impondo barreiras para que os jovens
moradores da favela se encontrem, se vejam, se esbarrem, namorem, se conheçam,
estreitem suas relações ou simplesmente se olhem.
Importante salientar que
todos querem a cidade integrada, sinceramente não sou contra os eventos, porém,
o formato adotado está interferindo e prejudicando diretamente a toda uma juventude,
mesmo que de forma velada e em prol da “integração”.
O texto é apenas uma
reflexão não existe certo e errado, haja vista, que as festas só ocorrem com
autorização de moradores das favelas que talvez não enxerguem com a mesma ótica
que alguns críticos ou simplesmente acreditam que estejam promovendo a tão
falada integração.
O fato é que precisamos
ficar antenados. Considero importante o assunto em questão.
Quando a coisa acontece de
forma velada e por trás de algum discurso politicamente correto é que temos
dificuldade de debater e esclarecer a verdade aos moradores. No entanto, fica a
dica para que os grupos comunitários e principalmente os jovens, fiquem
ligados.
Para
quando acordarmos num futuro que pode estar mais próximo do que imaginamos,
querendo simplesmente nossas festas e confraternizações, não estarmos nos
perguntando:
Onde fazer?
Rafael Meireles Silva,
Grupo Eco.
Grupo Eco.
2 comentários:
Meu caro Jama... obrigado por expressar sua opinião, concordo que devemos sim lutar contrar esse humor preconceituoso.
Texto carregado de fortes emoções. Realmente o personagem é uma afronta. Pena que muitos irmaos acham graça das piadinhas de mau gosto.
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